ELECTRA-ll
O ELECTRA-II era um avião moderno para sua época. Potente e robusto atingia 4000 hp por motor em uma temperatura de quatro graus Celsius, e 1900 hp em um dia normal de verão. Todos seus comandos eram mecânicos com auxílios hidráulicos que tornavam sua maneabilidade estupenda, com condições de vôo seguras até com dois motores do mesmo lado funcionando. Possuía uma interface eletrônica para que cada pá de cada hélice passasse exatamente no intervalo da outra reduzindo ondas de choque e conseqüentemente reduzindo o ruído.
Seu sistema elétrico era completamente automático, transferindo as barras alimentadas por cada gerador para outro numa seqüência lógica, mantendo sempre a barra de alimentação dos instrumentos de vôo ligada.
Tinha um radar meteorológico cujo apelido era “radaroff” porque nunca nos impedia de enfrentar uma tempestade. Era uma prova de fogo, sacudia, pulava, tremia e iluminava os pára-brisas com fogo de santelmo, nome dado à luminosidade estática produzida pela chuva. Isso nos obrigava a voar com as luzes acesas durante esses períodos.
As decolagens do aeroporto Santos Dumont foram uma das mais belas coisas que me aconteceram em 1973, os pousos em Congonhas, as aproximações noturnas da pista 10 de Salvador, as madrugadas de nevoeiro chegando em Manaus, o inverno do Salgado Filho, sem esquecer os procedimentos de pouso em Florianópolis na pista antiga em dias de chuva que deixavam sempre os nervos a flor da pele.
Houve momentos impressionantes como ver sete quedas, Foz do Iguaçu, o Pico da Bandeira que na época era o mais alto do Brasil, a ilha do Bananal, o encontro das águas, e a pororoca subindo o Amazonas ao entardecer.
Voar é como vestir a camiseta de um clube várzea pela primeira vez. É jogar sua primeira partida a cada vôo. Sentir a adrenalina invadindo seus músculos, fazendo seus olhos brilharem, e passar sua vida em segundos que parecem eternidade, durante cada decolagem e cada pouso. É um vicio contagioso que dura não mais que 45 segundos.
Era um dia de sol a pino meu primeiro treinamento de vôo após semanas de curso e simulador. O treinamento em vôo era simulado, quando o alarme de fogo do motor tocasse deveríamos fazer o procedimento em alta voz sem concluí-lo.
Eu na minha babaquice de aprendiz perguntei se alguém já tinha completado o procedimento e desligado o motor durante o treinamento simulado? Todos riram e responderam: muitas vezes.
Lá fomos nós.
Take-off power, potencia de decolagem.
Sixty, sessenta milhas
V1, velocidade de decisão
Fire on engine number one simulated, fogo no motor um simulado
Fire warning bell off, desligar a campainha de alarme de fogo
Shutdown engine number one simulated, desligar o motor um
Vapt-vupt
Eu desliguei o motor imediatamente sem simulação.